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quinta-feira, 7 de junho de 2012

A arte de não fazer nada


Hoje o dia deu em chuvoso. Chuvoso e frio, do jeito que eu gosto. Um dia assim me livra das obrigações solares de sair para o mundo e

fico mais dentro de mim. Tirei o dia pra não fazer nada.O ócio é o pai das grandes ideias. Deixei que ele me fecundasse. Estou meio longe delas. Uma roupa velha, de preferência perdida em algum espaço atemporal, uma música que acalme meus ouvidos, sofá, preguiça sem culpa.Hoje poderia ser uma dedicado às arrumações e organizações necessárias, só que não posso esquecer que o caos é meu habitat natural. Se eu perdê-lo, perco-me também.A bagunça possui uma imobilidade ímpar. Amanhã estará no mesmo lugar, não preciso ter pressa, afinal hoje é um dia chuvoso e as horas se arrastam.
Meus pequenos prazeres não podem obedecer a algumas regras. Gosto da liberdade que existe dentro de mim, e tem sido tão pouca a que tenho na minha vida desperta. Deixo-me livre. As palavras brincam na minha cabeça, mesmo que eu queira deixá-las em repouso. Ideias não podem obedecer a regras. Não seriam ideias se obedecessem. Minhas palavras buscam o que toca, o que cutuca, o que sacode por dentro. Não estão nem aí para métricas, rimas, belezas aparentes. Surgem e são. Eu gosto delas assim, devo respeitá-las, mesmo que nem todos possam vê-las. Não me importo. Importo-me, sim, com os que saibam senti-las. Mas hoje é o dia dedicado ao ócio. Não devo pensar também.

sábado, 2 de junho de 2012

O inesperado

Gosto do silêncio e da solidão das manhãs de sábado. Só atletas e pessoas politicamente corretas costumam acordar cedo nos finais de semana e, embora eu não me encaixe em nenhuma dessas categorias, aprecio esse ar pós hecatombe, solitário e silencioso das manhãs de sábado. Reflito, longe da possibilidade de ser interrompida. Viajo no meu universo particular. Bom demais.
O inesperado tem muitas formas desconhecidas. Encontrei-o nesta semana dentro do meu caderno. Comecei um livro novo para crianças, para satisfazer a vontade do meu sobrinho que queria uma história de pavão.

O que escrever sobre esse bicho tão exibido? Gostei do desafio. Peguei meu caderno novo e mãos à obra. Nas primeiras páginas percebi algo diferente. Virei algumas folhas do caderno e lá estava uma folha seca, que viajara milhares de quilômetros até chegar até aqui. O caderno tinha sido um presente de minha mãe e fora comprado em Boston. Ele trouxe um pouco da cidade para mim e das pessoas que eu amo por lá. Prossegui meus escritos e o inesperado aconteceu novamente. Mais duas folhas de diferentes tamanhos moravam entre as minhas linhas sem que eu as percebesse. Lindas, secas, carregadas de um castanho envelhecido, veias grossas e sensíveis ao toque. Até que lembravam um pouco o que sou. O queria dizer aquilo? O caderno estava comigo fazia tanto tempo, por que descobrir as folhas só agora? Olhei para elas. Significam que três folhas viajaram milhares de quilômetros, o que elas jamais poderiam prever na sua submissão de vegetal seco, e só. As coisas têm o significado que damos para elas. E as minhas folhas, se é que posso considerá-las minhas, são folhas que me trazem cores, texturas e saudades. Posso pensar em dezenas de coisas que elas poderiam representar, só que hoje eu quero apenas a verdade e a simplicidade delas. É o que eu preciso neste sábado de manhã.