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sábado, 2 de junho de 2012

O inesperado

Gosto do silêncio e da solidão das manhãs de sábado. Só atletas e pessoas politicamente corretas costumam acordar cedo nos finais de semana e, embora eu não me encaixe em nenhuma dessas categorias, aprecio esse ar pós hecatombe, solitário e silencioso das manhãs de sábado. Reflito, longe da possibilidade de ser interrompida. Viajo no meu universo particular. Bom demais.
O inesperado tem muitas formas desconhecidas. Encontrei-o nesta semana dentro do meu caderno. Comecei um livro novo para crianças, para satisfazer a vontade do meu sobrinho que queria uma história de pavão.

O que escrever sobre esse bicho tão exibido? Gostei do desafio. Peguei meu caderno novo e mãos à obra. Nas primeiras páginas percebi algo diferente. Virei algumas folhas do caderno e lá estava uma folha seca, que viajara milhares de quilômetros até chegar até aqui. O caderno tinha sido um presente de minha mãe e fora comprado em Boston. Ele trouxe um pouco da cidade para mim e das pessoas que eu amo por lá. Prossegui meus escritos e o inesperado aconteceu novamente. Mais duas folhas de diferentes tamanhos moravam entre as minhas linhas sem que eu as percebesse. Lindas, secas, carregadas de um castanho envelhecido, veias grossas e sensíveis ao toque. Até que lembravam um pouco o que sou. O queria dizer aquilo? O caderno estava comigo fazia tanto tempo, por que descobrir as folhas só agora? Olhei para elas. Significam que três folhas viajaram milhares de quilômetros, o que elas jamais poderiam prever na sua submissão de vegetal seco, e só. As coisas têm o significado que damos para elas. E as minhas folhas, se é que posso considerá-las minhas, são folhas que me trazem cores, texturas e saudades. Posso pensar em dezenas de coisas que elas poderiam representar, só que hoje eu quero apenas a verdade e a simplicidade delas. É o que eu preciso neste sábado de manhã.

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