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domingo, 29 de abril de 2012

Solidão e pão de queijo



Acordei cedo em um lugar estranho. Um quarto de hotel com simplicidade franciscana é o que me basta. Solidão necessária (mais do que eu imaginava) e incômoda (menos do que eu esperava). Acordei com vontade de escrever em jejum, com o gosto das palavras dormidas e os pensamentos sonados florescendo nas primeiras horas do dias. Mas esqueci que sou uma criatura faminta e sedenta, nada metaforicamente falando. A fome e a sede me levaram ao café com pão de queijo e um passeio sob a chuva fina de Minas.Aqui as horas se alongam, o que me faz bem.
Ontem passei a noite com as minhas meninas. Estou me despedindo delas e isso me fez chorar. Concluir um trabalho é algo angustiante. O que será delas depois que partirem de mim? Não serão minhas mais, mas outros olhos as olharão como eu as olhei? Serão tão amadas como são por mim? Elas precisam ganhar o mundo. Mundo grande, sem porteiras. É preciso e assustador.



Moram em mim
outros olhos que me veem.
Neles existo e não me enxergo.
Tenho os olhos de versos.
Olhos de alma
que mostram meu coração de vidro,
tão pequeno e frágil,
que brilha e lacera em meu peito
inúmeras feridas
da onde brotam palavras vazias,
palavras vãs,
que eu nunca conseguirei entender.
(Coração de vidro- Caos- adaptação)

domingo, 22 de abril de 2012

Ab-sinto

Inebriada...entorpecida...
No dia em que tudo transbordou em inúmeras e intensas sensações, ainda me encontro em um estado de torpor (adoro essa palavra). Tudo o que vivi irá além de mim. Mas agora é hora de ir para a caverna, é hora de olhar para dentro e tentar entender o que acontece. Ou então não entender nada e deixar que tudo transcenda e seja.
Todas as palavras agora pipocam em meu peito em pequenas explosões deliciosamente dolorosas. Todos os sabores, toques, imagens trazem as coisas que perdi pelo caminho e que agora afloram com um intensidade perigosa. Explodirei? Implodirei? As palavras da amiga foram sábias: criar asas dói. Viver dói. Mas é bom demais...

Incidentes

Estou à beira do abismo
A um passo do voo
A um centímetro da queda
Tenho asas
Mas não sei voar
(De um tempo distante)
(...)



Num dia descobri que era pequena,
partícula em um mundo imenso.
Num dia descobri que era grande,
porque ele cabia todo dentro de mim.
Ganhei asas e saltei do abismo:
alma na boca,
sangue nas veias,
riscos e palavras que transbordam.
Meu caminho está aí.
(Do tempo presente)




(Ilustração: Eduardo de Amorim Nunes)

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Sobre o amor

"O mundo não está preparado para o amor e suas múltiplas formas. Ele quer compartimentar o amor em padrões pré definidos, pois não consegue lidar com o que desconhece. A única forma de amor válida é a plena, a verdadeira, que não conhece barreiras, limites. Certamente não estamos preparados para sua força devastadora."
(Sobre Nina e Nena- em uma página qualquer)
Escrever o amor é tão difícil quanto vivê-lo. Quando Nina e Nena apareceram na minha vida, há uns quatro anos, eu não sabia direito como elas encontrariam abrigo entre as minhas linhas. Hoje percebo como escrever me transforma em tantas e me transporta pelo universo de inúmeros sentimentos e sensações. Elas cresceram e seguem brincando com as minhas palavras, para que eu possa falar de coisas que até então não sabia. Não sei o amor. Eu sinto, e nem sempre isso é bom. Mas é o que tenho. Então é meu e é o que me basta.

Não me pergunte...
Não me pergunte o que não sei,
porque só sei daquilo que vivo
e vivo sem saber o porquê.
Não me ame como se eu fosse a única,
pois em mim vivem várias,
a pura,
a puta,
a filha,
a mãe,
e em nenhuma delas sou verdadeiramente eu.
Não tente me entender,
não compreendo meus passos,
apenas caminho,
e tiro de cada gota de vida
o que preciso para viver.
Não me odeie,
pois a linha que separa
o ódio da paixão,
é tênue demais,
e a paixão é fogo que não queima,
mas consome aos poucos o amor.
Não pense em mais nada !
Cala tua boca na minha
e viva em mim os teus desejos.
No meu hoje não existe amanhã.
A noite já se vai tão alta...
Não preciso saber mais nada.
Nunca saberei.

(Caos - p.5)

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Febre

Meu corpo arde em febre. Não é uma febre comum, desses tipos que uma gripe nos dá. É uma febre que me consome por dentro cada dia que me afasto de mim. Só que todos os dias têm sido assim, a cada passo que me desvio é como se ferisse a mim mesma, e tenho feito isso sempre. Talvez seja só apenas mais uma segunda-feira, no meio de outras tantas segundas que virão e se seguirão infinitamente, até o dia em que eu despertar e não me reconhecer mais. Meus sonhos são imensos. Como podem caber dentro de mim? Meu corpo continua ardendo. É só uma febre.


Hoje acordei...

Hoje acordei triste.
Invadida por uma tristeza tão grande
Que não mais cabia dentro de mim.
Acordei com o gosto seco da certeza
Enchendo minha boca de não,
Sepultando minhas dúvidas
No caminho do que é real.
Hoje acordei assim,
Sem possibilidade remota de sonho,
Sabendo que cada dia,
É apenas um dia,
E outros, e mais outros, mais outros...
Interminavelmente certos,
Retos, frios, pálidos.
Hoje acordei sem saber
O que fazer com meu coração
Pequeno e frágil,
Soterrado pelo medo,
Covardemente escondido
Dentro de minhas mãos.
Sou o que sempre soube ser,
Nem sempre sei o que fazer
Com o que sinto,
Nem tão pouco sei sentir o que sinto,
Não sei sofrer completamente,
Não sei nada absolutamente.
Sirvo de morada
Para versos vazios,
Encerro minha tristeza
Nos dias que não consigo viver.
(Lugar Algum - p. 47)