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quarta-feira, 30 de maio de 2012

Final feliz

Definitivamente eu gostaria de morar em uma novela ou, no mínimo, em um daqueles romances antigos de banca de jornal que tinham nomes de moças, Sabrina, Bárbara, ou alguma coisa desse tipo. Seria bem cômodo estar em um lugar no qual eu saberia que haveria um final feliz, apesar de todas as tramas malévolas, apesar de todos os enganos, culpas, traições. Maravilhosos desjejuns, casas perfeitas, pessoas perfeitas, sejam elas vilões ou mocinhos.
Minha vida anda muito longe de ser uma novela. A perfeição não me pertence, nem faço muita questão dela. É muita responsabilidade ser perfeita. Sou o que eu consigo ser. Isso é bem difícil, principalmente porque eu ainda não sem quem sou. Perdoem meus dramas particulares, mas os adoro. Deve ser meu sangue "português sentimental" que ferve diante da possibilidade de um dia seguinte ou de um final feliz.


Onde mora a minha realidade ?
Buscarei sempre aquilo que
Nem sei ao certo o que é ?
Transbordem meus mares sombrios
E faça-se lama da minha maldição.
Rasguem o véu do meu exílio,
Pois necessito urgentemente viver.
(Minhas verdades - Lugar Algum - trecho)

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Miopia


"Sua visão é fraquinha, fraquinha."
Foi a frase que eu ouvi após um exame de vista. Era óbvia demais.Sou míope desde que me conheço por gente. Vejo o mundo diferente, sem foco, aos borrões. Não creio que isso seja uma consequência da minha miopia. Não vejo as coisas como elas são. Vejo como sinto, o que às vezes dificulta bastante as coisas.
Minha visão fraquinha de formas perfeitas é o mais preciso sentido que possuo. Sem os vidros que recuperam meu defeito, aperto os olhos e olho pra dentro, de mim, das casas, das pessoas. Amplio o que é percebido, apago, desfoco, crio. Acho que enxergaria bem pior se fosse sã.



A palavra "miopia" vem do grego "olho fechado", porque as pessoas com esta condição, frequentemente apertam os olhos para ver melhor à distância.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Quarta-feira

Desejo para hoje que alguma coisa extraordinária aconteça na minha vida. Um apocalipse. Uma hecatombe. Um prêmio de loteria. Um beijo de um príncipe. Algo que mude definitivamente a minha direção. Hoje eu desejo tudo aquilo que não é meu, desde o sossego da vizinha velha até até a TV gigante do apartamento da frente. Também desejo não ter tanto desejos, porque sei que, por mais que eu viva, a eternidade não irá me pertencer (e essa eu nem desejo).
Não quero me conformar com aquilo que cabe neste momento na minha vida. Quero sonhos grandiosos, expectativas absurdas, palavras milagrosas. Mas hoje ainda é quarta-feira.



segunda-feira, 14 de maio de 2012

Segunda-feira



Não gosto de escrever às segundas-feiras, o que não quer dizer que eu não escreva neste dia que marca o início da monotonia que ronda meus dias tediosos. Sem dramas. Só não gosto de escrever às segundas, mas o faço, assim como faço milhares de coisas que não gostaria de fazer. A possibilidade de viver uma vida que me pertença sempre me parece impossível às segundas-feiras. Os dias guardam uma eternidade patética e eu não quero nada que seja eterno. É tempo demais pra minha inconstância.

Não tenho saudade...

Não tenho saudade do que fui.
Fui na verdade tão pouco nesta vida.
Era como pés que caminham sem caminho,
numa estrada infinitamente longa,
eternamente igual.
A poesia se abrigou em minhas mãos.
Nela eu escondia meus medos,
revelava meus segredos,
brincando de palavras.
Sentia o que não vivia.
Olhava o que não via.
Protegia-me em seu manto
e percebi seu breu,
uma tênue linha que separa
o sonho e o concreto.
Será que ainda é tempo de viver ?
Se eu vivesse aquilo que sonho
haveria luz,
haveria música,
não haveria solidão
Meu sonho é uma nuvem.
Sou tão pouco,
e tenho tanto medo...
Não sou nada.
(Caos - p.16)

domingo, 6 de maio de 2012

Minha mão esquerda

Minha mão esquerda acordou inquieta. Desejosa da pele branca e dos traços fortes. Ansiosa por brincar em suas paralelas infinitas. Teve que conter seus impulsos. A vida real é bastante chata e insistente. Devo fazer o que ela me ordena. Guardar desejos não é uma coisa boa, mas por hora, talvez seja o mais adequado. Talvez. Não tenho muitas certeza, gosto mais das dúvidas. Elas me movem.
Minha mãe esquerda vai ter que se fartar de rotina e se contentar com isso. Nada de delírios e viagens alucinantes do olhar pra dentro. Bom dia, realidade!
,
Estranhamente sou definida assim:
esquerda, estibordo,canho, canhoto, esquerdo, canhoteiro, demônio, belzebu, cão, capeta, demo, diabo, satanás, tinhoso, desajeitado, bronco, canhestro, desastrado, desengonçado, desgracíoso, idiota, inábil, pamonha, afobado, atarantado, calamitoso, estabanado, funesto, infausto, infeliz, anhangá, lúcifer, maldito, maligno, sinistro, imperito, inapto, incapaz, incompetente, inepto, remendão, desjeitoso, maljeitoso, estouvado, estavanado, cambembe, desazado, estabalhoado estouvanado
. (Até que gosto...)

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Cansaço

Sei que estou cansada quando o que me move até o fim do dia é a esperança de um cigarro e uma cerveja gelada. Nada mais. Nem mais um sonho, nem mais nada. Não gosto disso, principalmente quando é um cansaço inútil. Nada fiz de muito significativo, só vivi em função daquilo que não me pertence. A minha busca permanece à margem de mim. É certo que a minha autopiedade é algo que me domina quando estou só, mas já me acostumei a ela, com uma dependência quase patológica.Penso que poderia ter um nome mais moderno, um corpo mais bem feito, palavras mais rebuscadas. Penso que eu poderia ser qualquer coisa que não eu. Cansaço. Penso que é só cansaço.
Nos últimos dias minhas meninas se foram. O livro está concluído. É uma sensação estranha. Agora me sinto vazia. Restam apenas os detalhes finais, mas elas já não me pertencem mais. É alguma coisa parecida como se lançar no vazio, jogar minhas palavras, minhas histórias no mundo sem ter certeza de nada.Nunca terei certeza de nada definitivamente.


Mediocridade
A mediocridade me escolheu
Para levar uma vida
Cheia de inhas e zinhas
Não escalei grandes montanhas
Ao salvei espécies raras
Não inventei vacinas,
Nem teorias revolucionárias,
Muito menos fui autora
De obras inesquecíveis.
Minha existência resume-se num vazio.
Um vazio indescritível e familiar,
Que eu me acostumei por séculos.
O nada é a minha melhor obra.