Seguidores

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Tempo, tempo, tempo...

A solidão é uma benção que não possuo. A necessidade é uma mãe cruel. O tempo é um pai carrasco. Garimpar minutos tem sido uma arte, um trabalho árduo, que não me basta. Quero mais. Quero sempre mais. Sou um ser de desejos. Por que não consigo me contentar com o que foi me dado? Por que tenho que estar sempre nessa busca alucinada? Nem sei direito das minhas vontades. Agora sei que preciso de solidão e tempo. Os dois juntos. Não como eles vêm para mim: solidão fragmentada, tempo homeopático.
Não tenho saudades do que já passou. Só aquilo que eu poderia ter feito é que me faz falta. Hoje farei tudo. Tudo o que posso, tudo o que me é permitido (ou não), tudo o que desejo. Amanhã não sei. Ontem não fiz.
Como o mestre disse: é tempo de travessia.

domingo, 29 de julho de 2012

Preguiça

Ando com uma preguiça danada de mim. Existem pecados bem mais deliciosamente interessantes...a luxúria, a gula, a ira (ou todos juntos). Só que a preguiça me dominou nos últimos dias. Não acho de todo ruim, ela é o tempo que tenho para meus pensamentos se distraírem e minha alma ficar tranquila no momento da espera. Ela é o tempo sem pressa, sem a agonia das horas urgentes.
Entender alguns períodos como momentos de espera é bem difícil em tempo de ultra velocidades. Tudo gira tão depressa. As informações, o conhecimento, as pessoas, os olhares. Quero desacelerar, fingir que sou sábia, como eram os bons que me precederam, e deixar que a vida aconteça sem a ansiedade do momento seguinte. Amanhã vai ser outro dia e é muita provável que eu não possa uras mais a roupa confortável da madorna e entrar no moto-contínuo louco da minha rotina. Acho que nem é hora de pensar no amanhã, nem sequer no próximo minuto. Estou com preguiça disso também.

NOTA:
A Preguiça: a Igreja Católica apresenta a preguiça como um dos sete pecados capitais, caracterizado pela pessoa que vive em estado de falta de capricho, de esmero, de empenho, em negligência, desleixo, morosidade, lentidão e moleza, de causa orgânica ou psíquica, que a leva à inatividade acentuada. Aversão ao trabalho, frequentemente associada ao ócio, vadiagem. Do latim prigritia.
Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Pecado_capital_(cristianismo)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Nariz absoluto no homem relativo

Na hierarquia dos sentidos o olfato não ocupa uma posição muito digna. Talvez seja o sentido que tenhamos menos pena de perder. Meu avô Salvador (acho que tinha esse nome pelas inúmera vezes que teve que salvar a si próprio) perdeu o olfato por conta de uma meningite, da qual sobreviveu, naqueles tempos difíceis. Sempre se falou que o dano foi mínimo, "foi só o olfato". Não creio que seja assim. O olfato é o sentido das lembranças. Cada cheiro de passado é uma imagem que se forma. O cheiro da casa da minha avó no interior, do pão feito em casa, do óleo diesel dos caminhões que passavam por nós na estrada, cheiro de filho, de pele quando se sai do banho, de terra molhada... Não posso menosprezar os demais, somos dependentes de todos os sentidos para a percepção do mundo,e particularmente, são eles que me aproximam de uma vida instintiva, adormecida pela intelectualidade pós-moderna. No entanto as particularidades do olfato me encantam. A perda de outros sentidos faz que outros se agucem. O olfato não. Diretamente ligado ao paladar, sua perda causa uma diminuição significativa percepção do gosto das coisas. É o sentido da parceria, não caminha só.
Gosto de cheirar. Não é um hábito muito educado e cultuado. Talvez se eu tivesse vivido nos primórdios da existência humana fosse algo aceitável e necessário. Atualmente com tantos prazos de validades e selos de segurança tornou-se quase que obsoleto. Cheirar o mundo é inspirá-lo. Gosto de cheirar meus textos assim que termino de escrevê-los com caneta esferográfica. É único, porque é volátil. Em minutos o odor se esvai e restam apenas as palavras. Nessa hora tenho a sensação de colocá-las para dentro de novo. Encher os pulmões de inúmeras partículas invisíveis. Inspirar. Também gosto disso, em todos os sentidos que isso tenha. Oxigenar meu corpo de tudo. Inspirar sempre. Inspiro-me.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

O diabo e o sete de ouros

Gosto de oráculos. Principalmente porque a linguagem deles cabe em qualquer expectativa. O tarot me fascina. Tantos símbolos que eu posso jogar e pronto, minha resposta estará lá, ainda que eu não esteja pronta para entende-la.
Eu estava querendo respostas. Joguei. O diabo e o sete de ouros. algumas cartas possuem nomes meio assustadores: o diabo, a morte, o enforcado. Tudo bem, muitos já sabem que são só nomes, as cartas que têm nomes agradáveis nem sempre são tão boas assim. Mas virar uma carta assim sempre me gela a espinha.
Os prognósticos não eram ruins. Sempre me sobram da leitura das cartas algumas poucas palavras. Coragem. Não vender sua alma. Não é preciso uma carta para me dizer isso.Minha alma não tem preço. Pelo menos agora.
Em outros tempos já foi vendida, emprestada, doada, esquecida. Agora sinto-a minha, absolutamente minha. Foi um encontro difícil, descobrir-me. Tem sido. Não posso mais me negar esse prazer solitário da minha eterna busca. Eu.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

A arte de não fazer nada


Hoje o dia deu em chuvoso. Chuvoso e frio, do jeito que eu gosto. Um dia assim me livra das obrigações solares de sair para o mundo e

fico mais dentro de mim. Tirei o dia pra não fazer nada.O ócio é o pai das grandes ideias. Deixei que ele me fecundasse. Estou meio longe delas. Uma roupa velha, de preferência perdida em algum espaço atemporal, uma música que acalme meus ouvidos, sofá, preguiça sem culpa.Hoje poderia ser uma dedicado às arrumações e organizações necessárias, só que não posso esquecer que o caos é meu habitat natural. Se eu perdê-lo, perco-me também.A bagunça possui uma imobilidade ímpar. Amanhã estará no mesmo lugar, não preciso ter pressa, afinal hoje é um dia chuvoso e as horas se arrastam.
Meus pequenos prazeres não podem obedecer a algumas regras. Gosto da liberdade que existe dentro de mim, e tem sido tão pouca a que tenho na minha vida desperta. Deixo-me livre. As palavras brincam na minha cabeça, mesmo que eu queira deixá-las em repouso. Ideias não podem obedecer a regras. Não seriam ideias se obedecessem. Minhas palavras buscam o que toca, o que cutuca, o que sacode por dentro. Não estão nem aí para métricas, rimas, belezas aparentes. Surgem e são. Eu gosto delas assim, devo respeitá-las, mesmo que nem todos possam vê-las. Não me importo. Importo-me, sim, com os que saibam senti-las. Mas hoje é o dia dedicado ao ócio. Não devo pensar também.

sábado, 2 de junho de 2012

O inesperado

Gosto do silêncio e da solidão das manhãs de sábado. Só atletas e pessoas politicamente corretas costumam acordar cedo nos finais de semana e, embora eu não me encaixe em nenhuma dessas categorias, aprecio esse ar pós hecatombe, solitário e silencioso das manhãs de sábado. Reflito, longe da possibilidade de ser interrompida. Viajo no meu universo particular. Bom demais.
O inesperado tem muitas formas desconhecidas. Encontrei-o nesta semana dentro do meu caderno. Comecei um livro novo para crianças, para satisfazer a vontade do meu sobrinho que queria uma história de pavão.

O que escrever sobre esse bicho tão exibido? Gostei do desafio. Peguei meu caderno novo e mãos à obra. Nas primeiras páginas percebi algo diferente. Virei algumas folhas do caderno e lá estava uma folha seca, que viajara milhares de quilômetros até chegar até aqui. O caderno tinha sido um presente de minha mãe e fora comprado em Boston. Ele trouxe um pouco da cidade para mim e das pessoas que eu amo por lá. Prossegui meus escritos e o inesperado aconteceu novamente. Mais duas folhas de diferentes tamanhos moravam entre as minhas linhas sem que eu as percebesse. Lindas, secas, carregadas de um castanho envelhecido, veias grossas e sensíveis ao toque. Até que lembravam um pouco o que sou. O queria dizer aquilo? O caderno estava comigo fazia tanto tempo, por que descobrir as folhas só agora? Olhei para elas. Significam que três folhas viajaram milhares de quilômetros, o que elas jamais poderiam prever na sua submissão de vegetal seco, e só. As coisas têm o significado que damos para elas. E as minhas folhas, se é que posso considerá-las minhas, são folhas que me trazem cores, texturas e saudades. Posso pensar em dezenas de coisas que elas poderiam representar, só que hoje eu quero apenas a verdade e a simplicidade delas. É o que eu preciso neste sábado de manhã.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Final feliz

Definitivamente eu gostaria de morar em uma novela ou, no mínimo, em um daqueles romances antigos de banca de jornal que tinham nomes de moças, Sabrina, Bárbara, ou alguma coisa desse tipo. Seria bem cômodo estar em um lugar no qual eu saberia que haveria um final feliz, apesar de todas as tramas malévolas, apesar de todos os enganos, culpas, traições. Maravilhosos desjejuns, casas perfeitas, pessoas perfeitas, sejam elas vilões ou mocinhos.
Minha vida anda muito longe de ser uma novela. A perfeição não me pertence, nem faço muita questão dela. É muita responsabilidade ser perfeita. Sou o que eu consigo ser. Isso é bem difícil, principalmente porque eu ainda não sem quem sou. Perdoem meus dramas particulares, mas os adoro. Deve ser meu sangue "português sentimental" que ferve diante da possibilidade de um dia seguinte ou de um final feliz.


Onde mora a minha realidade ?
Buscarei sempre aquilo que
Nem sei ao certo o que é ?
Transbordem meus mares sombrios
E faça-se lama da minha maldição.
Rasguem o véu do meu exílio,
Pois necessito urgentemente viver.
(Minhas verdades - Lugar Algum - trecho)

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Miopia


"Sua visão é fraquinha, fraquinha."
Foi a frase que eu ouvi após um exame de vista. Era óbvia demais.Sou míope desde que me conheço por gente. Vejo o mundo diferente, sem foco, aos borrões. Não creio que isso seja uma consequência da minha miopia. Não vejo as coisas como elas são. Vejo como sinto, o que às vezes dificulta bastante as coisas.
Minha visão fraquinha de formas perfeitas é o mais preciso sentido que possuo. Sem os vidros que recuperam meu defeito, aperto os olhos e olho pra dentro, de mim, das casas, das pessoas. Amplio o que é percebido, apago, desfoco, crio. Acho que enxergaria bem pior se fosse sã.



A palavra "miopia" vem do grego "olho fechado", porque as pessoas com esta condição, frequentemente apertam os olhos para ver melhor à distância.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Quarta-feira

Desejo para hoje que alguma coisa extraordinária aconteça na minha vida. Um apocalipse. Uma hecatombe. Um prêmio de loteria. Um beijo de um príncipe. Algo que mude definitivamente a minha direção. Hoje eu desejo tudo aquilo que não é meu, desde o sossego da vizinha velha até até a TV gigante do apartamento da frente. Também desejo não ter tanto desejos, porque sei que, por mais que eu viva, a eternidade não irá me pertencer (e essa eu nem desejo).
Não quero me conformar com aquilo que cabe neste momento na minha vida. Quero sonhos grandiosos, expectativas absurdas, palavras milagrosas. Mas hoje ainda é quarta-feira.



segunda-feira, 14 de maio de 2012

Segunda-feira



Não gosto de escrever às segundas-feiras, o que não quer dizer que eu não escreva neste dia que marca o início da monotonia que ronda meus dias tediosos. Sem dramas. Só não gosto de escrever às segundas, mas o faço, assim como faço milhares de coisas que não gostaria de fazer. A possibilidade de viver uma vida que me pertença sempre me parece impossível às segundas-feiras. Os dias guardam uma eternidade patética e eu não quero nada que seja eterno. É tempo demais pra minha inconstância.

Não tenho saudade...

Não tenho saudade do que fui.
Fui na verdade tão pouco nesta vida.
Era como pés que caminham sem caminho,
numa estrada infinitamente longa,
eternamente igual.
A poesia se abrigou em minhas mãos.
Nela eu escondia meus medos,
revelava meus segredos,
brincando de palavras.
Sentia o que não vivia.
Olhava o que não via.
Protegia-me em seu manto
e percebi seu breu,
uma tênue linha que separa
o sonho e o concreto.
Será que ainda é tempo de viver ?
Se eu vivesse aquilo que sonho
haveria luz,
haveria música,
não haveria solidão
Meu sonho é uma nuvem.
Sou tão pouco,
e tenho tanto medo...
Não sou nada.
(Caos - p.16)

domingo, 6 de maio de 2012

Minha mão esquerda

Minha mão esquerda acordou inquieta. Desejosa da pele branca e dos traços fortes. Ansiosa por brincar em suas paralelas infinitas. Teve que conter seus impulsos. A vida real é bastante chata e insistente. Devo fazer o que ela me ordena. Guardar desejos não é uma coisa boa, mas por hora, talvez seja o mais adequado. Talvez. Não tenho muitas certeza, gosto mais das dúvidas. Elas me movem.
Minha mãe esquerda vai ter que se fartar de rotina e se contentar com isso. Nada de delírios e viagens alucinantes do olhar pra dentro. Bom dia, realidade!
,
Estranhamente sou definida assim:
esquerda, estibordo,canho, canhoto, esquerdo, canhoteiro, demônio, belzebu, cão, capeta, demo, diabo, satanás, tinhoso, desajeitado, bronco, canhestro, desastrado, desengonçado, desgracíoso, idiota, inábil, pamonha, afobado, atarantado, calamitoso, estabanado, funesto, infausto, infeliz, anhangá, lúcifer, maldito, maligno, sinistro, imperito, inapto, incapaz, incompetente, inepto, remendão, desjeitoso, maljeitoso, estouvado, estavanado, cambembe, desazado, estabalhoado estouvanado
. (Até que gosto...)

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Cansaço

Sei que estou cansada quando o que me move até o fim do dia é a esperança de um cigarro e uma cerveja gelada. Nada mais. Nem mais um sonho, nem mais nada. Não gosto disso, principalmente quando é um cansaço inútil. Nada fiz de muito significativo, só vivi em função daquilo que não me pertence. A minha busca permanece à margem de mim. É certo que a minha autopiedade é algo que me domina quando estou só, mas já me acostumei a ela, com uma dependência quase patológica.Penso que poderia ter um nome mais moderno, um corpo mais bem feito, palavras mais rebuscadas. Penso que eu poderia ser qualquer coisa que não eu. Cansaço. Penso que é só cansaço.
Nos últimos dias minhas meninas se foram. O livro está concluído. É uma sensação estranha. Agora me sinto vazia. Restam apenas os detalhes finais, mas elas já não me pertencem mais. É alguma coisa parecida como se lançar no vazio, jogar minhas palavras, minhas histórias no mundo sem ter certeza de nada.Nunca terei certeza de nada definitivamente.


Mediocridade
A mediocridade me escolheu
Para levar uma vida
Cheia de inhas e zinhas
Não escalei grandes montanhas
Ao salvei espécies raras
Não inventei vacinas,
Nem teorias revolucionárias,
Muito menos fui autora
De obras inesquecíveis.
Minha existência resume-se num vazio.
Um vazio indescritível e familiar,
Que eu me acostumei por séculos.
O nada é a minha melhor obra.

domingo, 29 de abril de 2012

Solidão e pão de queijo



Acordei cedo em um lugar estranho. Um quarto de hotel com simplicidade franciscana é o que me basta. Solidão necessária (mais do que eu imaginava) e incômoda (menos do que eu esperava). Acordei com vontade de escrever em jejum, com o gosto das palavras dormidas e os pensamentos sonados florescendo nas primeiras horas do dias. Mas esqueci que sou uma criatura faminta e sedenta, nada metaforicamente falando. A fome e a sede me levaram ao café com pão de queijo e um passeio sob a chuva fina de Minas.Aqui as horas se alongam, o que me faz bem.
Ontem passei a noite com as minhas meninas. Estou me despedindo delas e isso me fez chorar. Concluir um trabalho é algo angustiante. O que será delas depois que partirem de mim? Não serão minhas mais, mas outros olhos as olharão como eu as olhei? Serão tão amadas como são por mim? Elas precisam ganhar o mundo. Mundo grande, sem porteiras. É preciso e assustador.



Moram em mim
outros olhos que me veem.
Neles existo e não me enxergo.
Tenho os olhos de versos.
Olhos de alma
que mostram meu coração de vidro,
tão pequeno e frágil,
que brilha e lacera em meu peito
inúmeras feridas
da onde brotam palavras vazias,
palavras vãs,
que eu nunca conseguirei entender.
(Coração de vidro- Caos- adaptação)

domingo, 22 de abril de 2012

Ab-sinto

Inebriada...entorpecida...
No dia em que tudo transbordou em inúmeras e intensas sensações, ainda me encontro em um estado de torpor (adoro essa palavra). Tudo o que vivi irá além de mim. Mas agora é hora de ir para a caverna, é hora de olhar para dentro e tentar entender o que acontece. Ou então não entender nada e deixar que tudo transcenda e seja.
Todas as palavras agora pipocam em meu peito em pequenas explosões deliciosamente dolorosas. Todos os sabores, toques, imagens trazem as coisas que perdi pelo caminho e que agora afloram com um intensidade perigosa. Explodirei? Implodirei? As palavras da amiga foram sábias: criar asas dói. Viver dói. Mas é bom demais...

Incidentes

Estou à beira do abismo
A um passo do voo
A um centímetro da queda
Tenho asas
Mas não sei voar
(De um tempo distante)
(...)



Num dia descobri que era pequena,
partícula em um mundo imenso.
Num dia descobri que era grande,
porque ele cabia todo dentro de mim.
Ganhei asas e saltei do abismo:
alma na boca,
sangue nas veias,
riscos e palavras que transbordam.
Meu caminho está aí.
(Do tempo presente)




(Ilustração: Eduardo de Amorim Nunes)

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Sobre o amor

"O mundo não está preparado para o amor e suas múltiplas formas. Ele quer compartimentar o amor em padrões pré definidos, pois não consegue lidar com o que desconhece. A única forma de amor válida é a plena, a verdadeira, que não conhece barreiras, limites. Certamente não estamos preparados para sua força devastadora."
(Sobre Nina e Nena- em uma página qualquer)
Escrever o amor é tão difícil quanto vivê-lo. Quando Nina e Nena apareceram na minha vida, há uns quatro anos, eu não sabia direito como elas encontrariam abrigo entre as minhas linhas. Hoje percebo como escrever me transforma em tantas e me transporta pelo universo de inúmeros sentimentos e sensações. Elas cresceram e seguem brincando com as minhas palavras, para que eu possa falar de coisas que até então não sabia. Não sei o amor. Eu sinto, e nem sempre isso é bom. Mas é o que tenho. Então é meu e é o que me basta.

Não me pergunte...
Não me pergunte o que não sei,
porque só sei daquilo que vivo
e vivo sem saber o porquê.
Não me ame como se eu fosse a única,
pois em mim vivem várias,
a pura,
a puta,
a filha,
a mãe,
e em nenhuma delas sou verdadeiramente eu.
Não tente me entender,
não compreendo meus passos,
apenas caminho,
e tiro de cada gota de vida
o que preciso para viver.
Não me odeie,
pois a linha que separa
o ódio da paixão,
é tênue demais,
e a paixão é fogo que não queima,
mas consome aos poucos o amor.
Não pense em mais nada !
Cala tua boca na minha
e viva em mim os teus desejos.
No meu hoje não existe amanhã.
A noite já se vai tão alta...
Não preciso saber mais nada.
Nunca saberei.

(Caos - p.5)

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Febre

Meu corpo arde em febre. Não é uma febre comum, desses tipos que uma gripe nos dá. É uma febre que me consome por dentro cada dia que me afasto de mim. Só que todos os dias têm sido assim, a cada passo que me desvio é como se ferisse a mim mesma, e tenho feito isso sempre. Talvez seja só apenas mais uma segunda-feira, no meio de outras tantas segundas que virão e se seguirão infinitamente, até o dia em que eu despertar e não me reconhecer mais. Meus sonhos são imensos. Como podem caber dentro de mim? Meu corpo continua ardendo. É só uma febre.


Hoje acordei...

Hoje acordei triste.
Invadida por uma tristeza tão grande
Que não mais cabia dentro de mim.
Acordei com o gosto seco da certeza
Enchendo minha boca de não,
Sepultando minhas dúvidas
No caminho do que é real.
Hoje acordei assim,
Sem possibilidade remota de sonho,
Sabendo que cada dia,
É apenas um dia,
E outros, e mais outros, mais outros...
Interminavelmente certos,
Retos, frios, pálidos.
Hoje acordei sem saber
O que fazer com meu coração
Pequeno e frágil,
Soterrado pelo medo,
Covardemente escondido
Dentro de minhas mãos.
Sou o que sempre soube ser,
Nem sempre sei o que fazer
Com o que sinto,
Nem tão pouco sei sentir o que sinto,
Não sei sofrer completamente,
Não sei nada absolutamente.
Sirvo de morada
Para versos vazios,
Encerro minha tristeza
Nos dias que não consigo viver.
(Lugar Algum - p. 47)

quarta-feira, 28 de março de 2012

Inspiração

Acho que um dia de vinte quatro horas é pouco para tudo aquilo que quero viver. Garimpar neles minutos sagrados para criar não é tarefa fácil. Mas, parafraseando Picasso, a inspiração me encontrará de caneta na mão. Não desistirei. As palavras que me surgem sempre acharão um pedaço de papel para se tornarem reais. As palavras de hoje não são minhas e me foram apresentadas em uma reunião no final do dia. Fiquei feliz em perceber a eternidade e a força que elas possuem. Invictus é um pequeno poema do poeta Inglês William Ernest Henley (1849-1903). Foi escrito em 1875 e publicado pela primeira vez em 1888. Serviu de inspiração para Nelson Mandela, no tempo em que ele esteve na prisão. Quando o caminho é verdadeiro, o tempo não o destrói.

"Dentro da noite que me rodeia
Negra como um poço de lado-a-lado
Eu agradeço aos deuses que existem
Por minha alma indomável
Nas garras cruéis da circunstância
Eu não tremo ou me desespero
Sob os duros golpes da sorte
Minha cabeça sangra,
Mas não se curva,
Além deste lugar de raiva e choro
Para somente o horror da sombra
E, ainda assim a ameaça do tempo
Vai me encontrar e me achar, destemido
Não importa se o portão é estreito,
Não importa o tamanho do castigo.
Eu sou o dono do meu destino.
Eu sou o capitão da minha alma"

domingo, 25 de março de 2012

Criar

Estou exausta...a tarde foi produtiva, mas cansativa. Minhas meninas estão ganhando corpo e rosto. Isso me deixa extremamente feliz. Tive que deixá-las agora, para que tudo pudesse voltar ao normal novamente. Em breve elas estarão por aqui. Um poema meu veio antes delas e por elas. Hoje é o dia dele ser compartilhado:

Não sou mais eu.
É apenas o meu desejo
que destruiu
tudo aquilo que
eu sabia de mim.
Não me reconheço mais.
Preciso urgentemente despertá-la.
Ela, que dorme em meu peito
Secular e serena.
Preciso olhar em seus olhos
para ver que ainda existo lá.
Preciso banhar-me eu seu perfume
vestir-me com suas flores,
reaprender seus gestos,
doces e dançarinos.
Deixar que ela me toque
e ressurja plena.
Eu não sou mais.
Apenas o meu desejo
é que sabia de mim
e destruiu tudo.
Permaneço cega.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Pela manhã...

Acordei cedo e delirante de palavras. Já deitei delirando com elas e a manhã fez que elas pudessem encontrar seu espaço nas folhas do meu caderno. Parece poético isso, é é realmente, porque . só consigo pensar assim. Tudo que vem para mim, vem de forma intensa, dramática e lírica. Aprendi a gostar disso, apesar de, às vezes me sentir engolida por essa sensação. Quando peguei meus manuscritos logo nas primeiras horas do dia, senti que eles pesavam, de verdade, sem metáforas. Parece que todas as palavras escritas, a duras penas com minha esferográfica ganharam um corpo físico. Meu primeiro romance começa a ganhar vida. Toda vez que o escrevo tenho a sensação que estou escrevendo algo muito importante, não só pra mim. Nada faria sentido se fosse só meu. Minhas meninas pertencem ao mundo, e em breve, elas estarão prontas para ganhar vida. Personagem ganha vida em páginas de livros, e elas se materializarão no meu próximo. O tempo me faz falta, muita falta. É como se eu me perdesse do meu caminho e tivesse que dar uma volta imensa pra reencontrá-lo. Preciso de tempo e solidão. Também preciso de uma escrivaninha, um pouco mais de dinheiro, um carro, móveis novos, uma boa viagem, e de paz. Mentira. A paz me acomoda e não conseguiria mais escrever. Necessito do Caos

domingo, 18 de março de 2012

Bem-vindos ao CAOS

Nada me dá mais prazer do que criar. A Criação já está mim. Exercito essa prática cozinhando, parindo, escrevendo e queria muito poder compartilhar isso com as pessoas que, curiosas como eu, também praticam a criação nossa de cada dia. A ideia do diário do Caos surgiu em um dia no qual eu poderia falar horas sobre as coisas que tenho criado. Mas não tenho tantas horas do dia para poder falar ou trabalhar nelas e como escrever é meu modo de perceber o mundo, o Diário foi aberto. Bem-vindos ao meu caos particular. Tive que aprender muito com a vida. Uma das lições principais é que é não se pode negar o que se é. Passei muito tempo tentando fazer um monte de coisas que não eram eu. Era um mundo que não me pertencia. Demorei muito até chegar perto de mim, e acreditem, não foi, nem tem sido um caminho fácil.Escrever implica em uma entrega que muitas vezes é dolorosa.É quase uma necessidade física. Tive que adaptar tudo isso á realidade das coisas, o que às vezes me dá uma sensação de amputação de desejos, embora em outras vezes seja o que me traga de volta à tona. Nem sempre quero voltar.